É para quando precisar um dia
Detesto comprar roupas. Quando inevitável, adquiro o suficiente para ficar anos sem pisar numa loja. Na escolha, levo em consideração: o meu gosto, a durabilidade e se realmente vou utilizar tudo aquilo. O tempo provou que esta é uma boa estratégia: tenho várias jaquetas de poliéster que comprei há mais de quinze anos, todas em bom estado e que atendem às condições climáticas a que estou exposto. Quando chega o Inverno, não preciso me preocupar, nem sair correndo em busca de vestuário. Está tudo à mão.
Todavia, não é assim que minha mãe pensa e age. Ela tem compulsão por comprar roupas (e outras coisas) que estão em promoção, seja para ela ou para os outros. Todo ano é a mesma coisa: chega com uma ou mais "blusas de frio" novas para mim. Digo que já tenho mais do que o suficiente, mas ela faz ouvidos moucos e repete seu mantra: "É para quando precisar um dia".
Fato é que esse "dia" não chegou e, provavelmente, nunca chegará. Nos últimos anos, têm feito cada vez mais calor durante o Inverno, chegando a temperaturas acima dos 30° C. Hoje, mais uma vez, repeti o ritual: enquanto guardava algumas das jaquetas no baú, encontrei "roupas de frio" intocadas que separei para doação.
Aqui, cabe um parêntese: cada vez mais, opto por seguir um estilo de vida minimalista; ou melhor: essencialista, pois não se trata de ter o mínimo, mas sim de ter o necessário. Observo, com frequência, que tanto o excesso quanto a falta são prejudiciais e podem resultar em desperdício material e vital.
Isso tudo me levou a seguinte reflexão: quanto tempo, dinheiro e energia gastamos com vistas a cenários hipotéticos, improváveis e que não encontram respaldo na realidade? Em outras palavras: tal qual Dom Quixote, quais são os nossos "moinhos de vento"?
PS: Também me remeteu à icônica cena "Ze Germans", do filme Snatch: